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Mulheres interditadas Édimo de Almeida Pereira

O escritor juizforano, professor doutor Édimo de Almeida Pereira, apresenta-nos um ensaio sobre a literatura de autoria feminina, em que traça reflexões que incluem o pensamento de Simone de Beauvoir e de escritoras contemporâneas, além da leitura de dois contos de Márcia Carrano, da cidade mineira de Cataguases. Confira, logo abaixo, fragmentos deste ensaio.
Reprodução

''Antropofagia'' de Tarsila do Amaral, 1929
[Édimo de Almeida Pereira]
No longo percurso até então atravessado pelas mulheres na militância pelo reconhecimento de seus direitos numa realidade regida pela lógica machista do patriarcado, a formação de um pensamento e a enunciação de discursos preocupados em estabelecer e recriar uma nova imagem para a mulher, bem como em lhe assegurar a conquista de espaços dignos na estrutura social contemporânea, têm sido uma constante. Já em 1949, Simone Beauvoir questionava o descompasso existente entre a concessão do direito de voto às mulheres (o que teria implicado num estado de liberdade cívica para as mesmas) e a paradoxal dependência econômica que as assolava, ressaltando-lhes apenas a sua condição de vassalas. A autora apregoava o trabalho como único recurso capaz de garantir à mulher uma completa liberdade.
(...) Por outro lado, o conjunto de regras conservadoras que sempre ditou o padrão de comportamento feminino, assim como os padrões familiares de cada época (com a hegemonia masculina na chefia da família, compelindo a voz feminina ao silêncio) geraram uma série de interdições que incapacitaram a mulher para o mundo. (...) Simone Beauvoir, ao traçar o quadro de dificuldades que se apresentam para a mulher que deseja se desvencilhar da imagem de fragilidade e de incapacidade esboçadas pela fala masculina, foi pontual ao assinalar que:
''As restrições que a educação e os costumes impõem à mulher restringem seu domínio sobre o universo.''
A escritora Virgínia Woolf, por sua vez, em Um teto todo seu , aponta as vantagens que advêm para a mulher que consegue a independência econômica, independência essa que lhe viabiliza, sobretudo, a oportunidade de pensar o mundo sob uma nova perspectiva. No livro em questão, entre os diversos pontos levantados pela autora está a busca de uma explicação para o fato de sempre ter havido nas obras de ficção - masculinas, já que nunca se deu à mulher a oportunidade de se fixar como grande escritora - uma superioridade feminina:
''De fato, se a mulher só existe na ficção escrita pelos homens, poder-se-ia imaginá-la como uma pessoa da maior importância: muito versátil, heróica e mesquinha; admirável e sórdida, infinitamente bela e medonha ao extremo; tão grande quanto o homem e até maior, para alguns. Mas isso é a mulher na ficção. Na realidade, como assinala o Professor Trevelyan, ela era trancafiada, surrada e atirada ao quarto.''
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